agosto 15, 2014

# 15 de agosto



15 de agosto

Hoje é dia 15 de Agosto. Hoje chegamos a Portugal, após dois dias de viagem desde Bristol até ao Porto. Foram cerca de 2250 km no total, uma mala de viagem das grandes, duas malas das pequenas, umas guloseimas para o caminho, uma dormida em Calais e outra em Mont-de-Marsan. Foi um abraço grande ao rever a Pi e o Ruizinho e a nostalgia de os deixar tão rápido, misturado com a vontade de apertar mais dúzia e meia de gente em Portugal.

Tenho a música da Diáspora do já falecido cantor Graciano Saga, que o Zequinha costuma cantar ao Ivo "Vem devagar emigrante" e que bem lhe relembrou no dia da partida. Há que concordar que é a música pimba mais deprimente do mundo.


Não sei porquê mas associo o 15 de Agosto ao dia do emigrante, talvez por alguma cobertura de um evento do género na TV (naqueles programas tradicionais que alegram os velhinhos e animam as hostes com as moçoilas meio despidas, a abanar o pacote ao som do pimba mais genuíno) ou mesmo presenciada nalguma aldeia. Basta ter sido em Canelas, para o Ivo dizer que já foi na aldeia. Com certeza que será por ser feriado, em conjunto com as festas na aldeolas, patrocinadas e vividas mais intensamente pelos emigrantes. Agora compreendo isso, não que me apeteça ir ver o lançamento de foguetes ou a procissão da Nossa Senhora na Aguda.

É curioso ver que durante este percurso, o GPS mesmo desactualizado, deu sempre uma hora a mais no inicio e que se veio a observar mais tarde. Tivemos sorte, pois uma hora de trânsito distribuída por aqui e por ali, não é nada.

É ainda mais curiosa a banda sonora da nossa viagem, que também precisa de ser actualizada para o regresso. Começamos com as minhas sugestões enquanto o Ivo tinha paciência para as vozes estranhas dos meus cantores de eleição – salvaguardei-o do Antony (and the Johnsons) porque é tortura a mais para ele. Elbow, Ben Howard, Milky Chance deram o lugar a Two Door Cinema Club, Of Monster and Men e para o comboio no Canal da Mancha, o primeiro álbum dos The XX para preparar a ida para a caminha. Por falar em caminha, colchão quase a roçar o ortopédico na véspera de 1000 km não é nada bom!

Nesses 1000 km na travessia de França, o indie passou a rock-levezinho com Linkin Park e Metallica (não sou grande fã de vozes aos berros). Quando já era necessária uma mudança de música para aguentar os últimos 200 km, OUPAS mete aí a música do eMule de 1500 e carqueja, com toda a pastilhada, pop e todos os outros estilos musicais, com excepção do folclore nacional e o pimba. 


Para Portugal, a companhia do Miguel (o meu cunhado) ajudou a distrair e basta estarmos bem, para regressarmos às músicas intelectualmente aprováveis.

As paisagens que mais alegraram a minha vista dividiram-se pelo País Basco e ainda pelo Norte de França, algures entre Rouen e Les Mans. A paisagem que enche mais o coração, qualquer rua, ruela, calçada, paralelo, arbusto, montinho, montanha, riacho, laguito ou rio fica em Portugal.

No geral, as horas custaram a passar, com a ansiedade de ver as placas escritas em português na autoestrada e as horas passaram a voar, junto aos manos, como sei que vão passar enquanto estivermos resguardados no nosso país natal.

Um dia faremos esta viagem de vez. Um dia os meus manos também farão esta viagem de vez. Um dia deixaremos de ser vizinhos de gmail e estaremos a uma distância confortável uns dos outros, numa situação bem melhor que que aquela em que saímos de Portugal. É no que quero acreditar, que o nosso país tão pequenino, lutador, rico em tantos recursos e pessoas, e que cuja menção me enche o peito de orgulho, vai conseguir abrir-nos os braços e dizer: estão em casa.

Espero repor os níveis de vitamina D e de poder matar saudades de quem não tiver ido para fora durante os próximos dias.

Fiquem bem e não se esqueçam do protector solar,
Joana

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