julho 01, 2014

# islândia


Islândia. Março, 2014.

Pois bem, cabe-me a mim (Ivo) abrir as hostilidades dos postalinhos, e logo com uma viagem que, foi a maior surpresa positiva que alguma vez vivi.

Quando se fala na Islândia, o que vem à cabeça é a “aurora boreal”, a neve, vulcões, a falta de luz solar, ou falta da escuridão da noite (depende da altura do ano). Sim, estas coisas são todas acertadas, mas assim que chegamos notei diferenças muito notórias em relação nosso dia-a-dia, como a falta de densidade populacional e a modernidade dos (poucos) edifícios que cercavam o aeroporto de Keflavik.

A melhor decisão que fizemos foi a de alugar um carro e passear à nossa vontade, ganhando assim alguma mobilidade e liberdade de horários. E pronto, lá fomos nós no que considero ser o carro mais cómico que alguma vez conduzi, um Hyundai i10. Exacto, um i10 branco, micro machine como lhe chama a Joana, mas a cor…percebi mais tarde que fazia todo sentido e explicarei a seu devido tempo.

Depois da curta e tranquila viagem de 50 km até Reykjavik, chegamos ao hotel e planos não nos faltavam, mas como o tempo estava cinzento, decidimos passear pela capital da ilha durante a tarde. Mais uma vez, constatei a modernidade da cidade, mais propriamente dos prédios de habitação e escritórios, tipicamente ao estilo nórdico, mas o que me surpreendia era o facto do país ter sido o primeiro a entrar em falência. Adiante, cidade tipicamente nórdica, das quais se destacam a bizarra Hallgrímskirkja e o Harpa concert hall, símbolo de prosperidade moderna, no “pós” crise.  

Como podem imaginar, esta ilha tem pouco mais de 360 mil habitantes, sendo que dois terços habitam na capital, logo comparado com o nosso Porto, é bem mais pequeno e não são necessárias muitas horas para conhecer os pontos de interesse. Um descanso com umas horinhas de sono no hotel pareceu-nos um plano deveras interessante, para mais tarde atacar o jantar. Jantar, surpresa número dois, adoramos, recomendo e voltarei aqui se voltar à Islândia. Tapashúsið, com tapas de comida islandesa como especialidade (foto de cima) , das quais se realça o artic char islandês (parecido com o salmão) e um dos melhores bacalhaus não salgados que comi na minha vida (foto em baixo).

A ideia desta viagem era assistir ao espectacular fenómeno da aurora boreal (ou northern lights), algo que a Joana tinha como meta em ver até aos 30 (precisamente a idade dela actualmente). Ora, sempre atentos os forecast das northern lights, este dizia que entre a meia-noite e as 6 da manhã a probabilidade de serem vistas era reduzida. Ainda assim, decidimos que iríamos ter de dar tudo e fazer sacrifícios nas horas de sono. Às 3 da manhã acordamos e verificamos uma vez mais o forecast e consegui demover a Joana de irmos à procura das luzes, uma vez que a nebulosidade não iria permitir avista-las. Às 5 da manhã ela não cedeu e lá nós levantamos em busca do momento mais aguardado.

Fomos para fora da cidade em direção a Mosfellbaer, porque a dona Joana Sofia, dizia que não podia haver luminosidade artificial. Só víamos uma montanha enorme coberta de branco, algumas casas (todas incrivelmente modernas) e o ambiente quase perfeito. Quase, porque luzes nem vê-las e tendo passado uma hora sem qualquer sucesso, desistimos e regressamos ao hotel para tomar o pequeno-almoço e regressar ao ninho para mais umas horas de sono.

O segundo dia ia ser mais calmo, tendo somente visita marcada para a Blue Lagoon, 4 horas de relaxamento nas águas super cristalinas provenientes de uma central geotérmica. O cheiro a enxofre é intenso, a sensação do retirar o robe com temperatura a rondar os zero graus é de arrepiar, mas bastam 30 segundos na água para se relaxar e demolhar como um bacalhau.


O spa cansa e saímos de lá com a sensação de que tínhamos feito duas maratonas, logo o que fazer de seguida não nos deixava quaisquer dúvidas, jantar. Fomos a uma hamburgueria moderna (contem a número de vezes que já mencionei a modernidade), com música local e bem animado. 

Os islandeses são pessoas ao qual é fácil de se ficar a gostar, pois falam um óptimo e perceptível inglês, tendo uma atitude amigável e bem simpática. Resta saber se no pico do Inverno ou Verão, com poucas horas de luz e vice-versa, também o são, visto que estas coisas devem mexer com a biologia do corpo.

O terceiro dia foi definitivamente o melhor dia, pois fizemos um percurso pelos pontos de interesse mais visitados pelos turistas, o parque natural de þingvellir, o Geysir e as cataratas de Gulfoss (as maiores da Europa).

E tudo isto no branquinho i10. A cor, como disse anteriormente fazia todo sentido e eis porquê…o grau de camuflagem que este carro adquire em ambientes com temperaturas negativas. 

Ao todo foram 200kms de aventura no camuflado seguindo pela…única estrada que havia. Bem conservadas diga-se, e só não é assustador porque se podiam avistar imensos jipes 4x4, pelos vistos o carro mais alugado pelos turistas, uma vez que a Islândia tem imensas estradas de gravilha para não interferir com o ecossistema. Nós não tínhamos intenções em ir para essas estradas.

Em baixo deixo-vos com algumas fotos do parque natural de þingvellir. No lado esquerdo, a foto capturada na placa tectónica americana e no lado direiro, a zona de separação entre as placas tectónicas americana e euroasiática. Por último, uma foto capturada na placa tectónica euroasiática


A 30 km de distância, visitamos o Geysir, como o nome diz, o géiser vedeta. Na realidade, estando activo, era muito calmo comparado com o Strokkur, que entrava em erupção de 10 em 10 minutos. 
(Uiii, que mal dispostinho ele está!)

Por último, o terceiro ponto do Golden Circle, as cataratas de Gulfoss.


Já mencionei antes que a Islândia não é propriamente famosa pela sua densidade populacional, e no caminho de regresso a Reykjavik, para além de tirarmos umas fotos com o segundo animal mais populoso da ilha, o cavalo islandês, fomos acompanhados por uma acentuada queda de neve, o que só tornou isto tudo mais emocionante, não estivéssemos nós num i10. Esta altura foi a que mais se ouviu o radio, nenhum de nós falava muito, mas eu tava seguríssimo. Foi uma experiencia diferente, pois tendo conduzido debaixo de um nevão no Reino Unido, nunca havia conduzido debaixo de um senhor NEVÃO

- "Ok, até se vai bem, estás a exagerar Joana!!" (estaria???)

Mãe Celeste, estando tu a ler isto, já sei que o que te vai na cabeça é, “ai que doidos", mas olha que tivemos tratamento vip, como a imagem mostra. Um limpa-neves a abrir caminho para nós.

Chegados a Reykjavik, mais uma olhadela pelo forecast e…excelente, havia grande probabilidade de podermos ver a aurora!! O plano seria esperar pelo autocarro das excursões e segui-lo, uma vez que conhecem a área melhor que nós, mas bastou um semáforo ainda na rua do hotel para lhe perdermos o rasto. Ainda assapei para ver se o alcançávamos de novo, ou melhor, pensei eu que assapei, não estivéssemos nós num i10. Estávamos por nossa conta e fomos em direção ao aeroporto de Keflavik e da Blue Lagoon para uma zona sem iluminação artificial, não fosse a dona Joana Sofia ficar chateada. Encontrado um sítio, o que nos restava era somente esperar. Fomos munidos de leitinho e bolachas Oreo, mas esperar até quando?

Esperamos, esperamos, morfei um pacote de bolachas Oreo, falei ao telemóvel com os meus pais, esperamos, morfei outro pacote de bolachas, esperamos, esperamos, ouço a Joana a tentar comprar o aparecimento da “aurorinha” oferecendo-lhe umas bolachas Oreo, ao que lhe digo que já não havia mais. Esperamos e eis que muito ao de leve, vislumbramos uns pequenos raios verdes que se iam repetindo com fraca intensidade. Frustrados pela fraca intensidade, mas felizes com um sentimento de que a viagem tinha valido a pena, decidimos regressar ao hotel porque no dia seguinte não nos poderíamos levantar tarde. 

Estávamos a regressar, quando a Joana quase saltou dentro do carro ao avistar novamente a aurora boreal, mas desta vez com grande intensidade e duração. Paramos o carro na berma da estrada, e nem o vento que parecia que cortava os ossos nos demoveu de ficar a admirar aquele lindíssimo fenómeno. Demais, mesmo por cima de nós, parecia que comunicava connosco, como dizia a Joana, mas não havia dúvidas, era mesmo um fenómeno a ver ao vivo. Não há fotos, uma vez que é quase impossível de alcançar com um telemóvel. Estávamos a chegar ao hotel, quando avistamos novamente o fenómeno, mesmo com a presença de luz artificial. Lembram-se que usei duas vezes o “dona Joana Sofia” para me referir ao assunto, não foi? Digamos que, ainda que eu tivesse razão, há alturas que um homem não pode “ganhar” a sua e dando a “mão à palmatória”, assim até tivemos uma aventura bem divertida.

Para concluir, esta viagem foi a coisa mais inesperada e extraordinária que alguma vez vislumbrei. No livro do Lonely Planet dizia que quando estávamos para sair da ilha, já só pensamos num futuro regresso, e não é exagero, é completamente verídico. Só não entendi o porquê da Islândia se chamar Iceland. Há um grande mistério…Why Iceland is not icy and Greenland is not green? (Porque que a Terra do gelo (Islândia em inglês) não tem gelo e a Gronelândia (Greenland em inglês) não é verde (green)?) True story!

Sendo expatriado, ou emigra, muitas vezes dou por mim a pensar se viveria naquele país e comparo com a sociedade que actualmente me adopta. A Islândia só não dá 5-0 ao Reino Unido, porque é um pouco distante do rectângulo português, porque imagino que viver em cima de bombas relógio não deva ser muito animador, e na eventualidade destas “bombas” entrarem em erupção…vocês ainda se lembram do que aconteceu em 2010.

Sendo assim e tendo voos directos de Bristol, Joana, quando é que regressamos lá?


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