março 15, 2015

#V(i)EMos



#V(i)EMos

No dia 12 de Março de 2012, por volta da hora a que comecei a escrever este postal, andava a mil à hora. Não sabia do que iria precisar para a nova etapa que se avizinhava, pelo que as coisas mais impensáveis rapidamente se tornavam bens de primeira necessidade, como os cortinados transparentes Lill do IKEA ou o satélite da ZON. Actualmente, ainda lhes damos uso, bem como a muitas outras coisas que conseguimos empurrar para dentro do qashqai, incluindo a bagageira comprada de propósito para a viagem. Importava trazer o essencial para assegurar uma mudança minimamente suave e acolhedora, sendo o canudo o bem mais importante a par da vontade de singrar profissionalmente, em conjunto, sem nunca esquecer de onde partíamos.

Não fizemos parte do grupo A, o grupo que quis/quer emigrar por vontade inata antes-durante-pós crise (a crise já acabou, certo?). Emigrámos porque teve que ser, para contrariar a minha situação de desemprego e a situação precária de investigador em que o Ivo estava: fizemos/fazemos parte do grupo B

Quando se começa a desenhar uma hipótese de regressar, seja num mundo imaginário ou no mundo real, os "Bês" sonham e, com o bater do coração em crescendo, pincham logo (mentalmente) para o país natal, com a rapidez que "salta a pulga na balança", desta vez a partir de e não para a França. 

Não digo que os "Ás" não ambicionem regressar e não sonhem com o mesmo, tanto é que são muitas as variáveis na equação da vida que a torne possível de expressar duma forma linear. Os "Ás" conseguem camuflar o desejo de regressar e aceitam com mais calma as vicissitudes incontroláveis da vida, tal como a privação  do abraço diário dos familiares, do "bom dia" do vizinho ou do bom café (e não "expresso") em qualquer tasco que não tresande a licores, como o Costa ou o Starbucks.

Quisemos emigrar para poder regressar "em dois anos no máximo". Cumprimos a nossa parte, saímos. Ajudamos a economia a crescer, não ajudamos? Sem falar das remessas, do casamento em Portugal em detrimento duma cottage toda vintage e alcatifada, e ainda do investimento num cantinho para o regresso e não numa casa de praia... Tenho que confessar que nem todas as compras de Natal são feitas em Portugal, mas fazemos por dar o nosso melhor, como bons alunos fora da zona de conforto.

No dia 12 de Março de 2015, passados três anos, o então Secretário de Estado dos briefings, anunciou uma medida de incentivo de regresso aos emigrantes. Em três dias já ouvi muitos comentadores dizerem tudo o que há para se dizer e só posso acrescentar, que fazendo parte dos "VIEMOS" e, pior, do grupo B, isto tem um sabor a fel, tal e qual uma goma de anis. 

Faz hoje três anos que entramos no Reino Unido, por Portsmouth. Fica o registo dos cerca de 2200 km de viagem, da bagagem material, intelectual e emocional que trouxemos connosco, e ainda do crescimento do nosso pequeno sobrinho "avec" Dinis (que na altura não falava e agora é bilingue). Seria um sinal dos céus, aquela pastilha elástica que pisei na ultima estação de serviço em território nacional, para não me descolar de Portugal? Bem sei que no mínimo, seria  sinal de distraída...

Fica também o registo dos nossos olhares, em que a felicidade para enfrentar o desconhecido, não era mais que pura adrenalina pela aventura, escondendo um pouco de raiva por sabermos o valor que tínhamos, por sabermos que podíamos ser tão bons pelo nosso país, tal e qual como o que somos agora, mas no nosso país. A intensidade destes olhares vai redobrar, quando a viagem for de volta e sem as esmolas do VEM, com todas as desconfianças que de lá vêm.


Fica o registo que sem o Ivo, tudo isto não teria feito sentido e não teria sido possível. Ele foi e é o meu porto, quando a vontade de regressar me consome por dentro. Eu fui e sou o seu porto, quando a vontade de regressar o consome por dentro.   

Fiquem bem,
Joana


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